sábado, 7 de abril de 2018

O DEBATE E ACEITAÇÃO DE IDEIAS E O QUE PENSA HABERMAS EM PARA O USO PRAGMÁTICO, ÉTICO E MORAL DA RAZÃO PRÁTICA

Discussões e debates de ideias são uma realidade da sociedade civilizada desde os primórdios em vários povos. O Ocidente faz referências aos gregos e sua cultura dos debates. Mas nem todos conseguem debater ou gostam de debater. Há uma grande diferença entre impor um ponto de vista através da força, quer seja com um discurso de autoridade ou mesmo violência (física ou não-física), e demonstrar a alguém um ponto de vista ou uma teoria.

Nesse sentido, Jürgen Habermas, escreve um artigo intitulado "Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática", traduzido para o português por Márcio Suzuki que praticamente operacionaliza e trata em termos mais palatáveis o estudo realizado por Kant em "Crítica da razão prática". Em resumo, o artigo escrito por Habermas procura demonstrar que um discurso ou teoria pode alcançar três níveis de espraiação, inserção, convencimento, etc., sendo eles: pragmático, ético e moral.

O discurso em nível pragmático é aquele discurso que se impõe através da argumentação de ordem prática, por exemplo, um servidor público que justifica um benefício em seu salário através do simples argumento que uma lei autoriza seu recebimento. Isto é, recebo tal benefício porque uma lei a autoriza. Esse tipo de discurso não se preocupa em avançar sobre outros aspectos. É um discurso que não está aberto a intervenções e maiores discussões, porque resume-se a uma espécie de silogismo.

"Tarefas pragmáticas colocam-se da perspectiva de um agente que parte de suas metas e preferências. Deste ponto de vista, os problemas morais não podem surgir de maneira alguma, porque as outras pessoas têm apenas a importância de meios ou condições restritivas para a realização de um plano de ação respectivo a cada indivíduo". 

Um discurso ético, seria um discurso que demanda um nível de intelecção e racionalidade maior, porque são ideias mais complexas e há necessidade de um aprofundamento maior para sua existência, Habermas cita o exemplo de uma escolha de profissão que necessita de se analisar uma série de fatores e consequências para tal conclusão. Eles partem de um "interesse mútuo" entre um grupo de pessoas, isto é, seguindo o exemplo acima, existe um grupo de servidores públicos com um benefício em seus vencimentos e que todos tem em comum o interesse mútuo de manter tal nível de vencimentos, portanto o discurso avança a esfera pessoal e alcança uma categoria ou uma coletividade com características em comum que no caso são servidores públicos de uma categoria em especial. E a partir desse grupo, utilizam-se outros fundamentos para além dos legais, mas a necessidade de se ter um salário digno, de ao menos terem indenizados gastos inerentes a prestação do serviço, etc.

"O terminus ad quem de um discurso ético-existencial correspondente é um conselho para a orientação correta na vida, para a realização de um modo pessoal de vida".

Mas para um discurso em nível moral existir, a teoria deve convencer ou ter aceitação também em grupos antagônicos, isto é, há de ser uma ideia que é aceita por todos, universalizada. Apenas uma máxima que for capaz de alcançar a aceitação de todas as pessoas de quaisquer grupos sociais, mesmo que antagônicos, vale como uma ideia universal e que alcance um nível moral e impositivo. Por isso no exemplo em tela, tal benefício a uma classe de servidores públicos pode ser aceito ou não pela sociedade a depender de sua aceitação pela mesma, isto é, se for o pagamento de uma diária por motivo de viagem à serviço, é público e notório que poucas pessoas ou nenhuma irá debater contrariamente ao ressarcimento de gastos efetuados pelo servidor, mas se for uma diária com um valor irrazoável e desproporcional com a realidade de gastos de uma pessoa que viaja à serviço, a máxima de que se deva pagar essa diária, não alcançará uma universalidade e não alcançará pessoas para além de sua categoria ou um nível de fundamentação ética.

"O terminus ad quem de um discurso prático-moral correspondente é uma compreensão sobre a solução justa de um conflito no âmbito do agir regulado por normas".

Portanto, Habermas  lembra que

"O uso pragmático, ético e moral da razão prática tende, portanto, a indicações técnicas e estratégicas de ação, a conselhos clínicos e a juízos morais".

Por isso, o leitor desta postagem que pensa ter uma suma retidão em suas ideias, mas elas não avançam nem convencem, deve analisar seus argumentos, o grupo de pessoas em que está debatendo e a sociedade em modo geral em sua volta. Não quer dizer que suas ideias não possuam bons fundamentos, mas talvez que suas ideias não estão alcançando o interlocutor ou interlocutores. Seus fundamentos devem começar em pautas pragmáticas, para depois avançar para um nível ético e por fim formar uma máxima, mas é possível que todos seus argumentos sejam aceitos, mas apenas aqueles em comum, então comece por aí sua discussão. Os pontos em comum também são pontos de partida para um debate sadio. Não desanimem e combatam os sofistas. E tenham em mente que uma ideia que não está baseada numa máxima universal, baseado nas ideias dos autores em tela , é possível que seja uma falácia.

Não desanimem, viver em paz e numa democracia é isso!

Referência:

HABERMAS, Jürgen. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. Estud. av.,  São Paulo ,  v. 3, n. 7, p. 4-19,  Dec.  1989 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141989000300002&lng=en&nrm=iso>. access on  07  Apr.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141989000300002.

terça-feira, 3 de abril de 2018

COMO PASSEI NA OAB

Cada candidato que participou da prova da OAB teve sua experiência quanto à sua aprovação ou reprovação. É salutar definir que esta postagem diz respeito à meu processo de preparação para o certame. Para tanto, vou elencar alguns tópicos que creio ser relevantes para o estudante de direito levar em consideração na sua preparação para a prova da OAB.

1. Não menospreze o nível da prova

Menosprezar o obstáculo a ser transposto pode causar dores a qualquer atleta que busca se preparar adequadamente para sua prova. Mas isso não é sensacionalismo, é apenas um aviso que independentemente da faculdade/universidade que o estudante cursar, deve se dedicar minimamente para apreender os conceitos básicos de direito que farão toda a diferença no momento do certame. Isto é, não deixe para a última hora, estude desde o primeiro período o máximo que puder o tempo que tiver disponível para que a reta final seja menos dolorosa e mais proveitosa.

Apesar de parecer que a primeira fase da prova é fácil e a segunda também, não é. Existem percalços que podem ocorrer durante a prova e inclusive caírem questões que o estudante não saiba. Por isso é importante uma preparação sólida.

Tentei fazer isso durante todo meu curso, claro que não obtive êxito porque não é possível estudar todas as disciplinas na mesma intensidade durante toda a graduação, mas fez diferença para mim quando fui prestar o exame da OAB. Errei muitas questões, mas acertei o suficiente para passar para a segunda fase e nesta, adotando a mesma filosofia, também fiz o suficiente para minha aprovação.

2. Ouça seus amigos/colegas/professores/pais/etc.

Muitas pessoas que se tornaram profissionais em direito no Brasil passaram pela experiência de fazer a prova da OAB, logo, independentemente do resultado delas, ouça-as para avaliar os pontos positivos e negativos de cada experiência, formas de preparação, estratégias de estudo, etc. Não pense que sozinho conseguirá e será fácil e tranquilo pois não será. O fato de ouvir outras experiências ajuda a evitar equívocos nesse processo obrigatório para o exercício da advocacia no Brasil.

Também perguntei a todos que pude e cada um contribuiu da sua forma na minha preparação e me ajudou muito em minhas estratégias e digo que essas conversas foram fundamentais em minha aprovação. 

3. Faça simulados e questões

Uma etapa importantíssima na minha caminhada foram as questões e simulados. Antes de iniciar meus estudos em específico para a prova eu fiz um simulado para saber as áreas em que estava mais deficiente e estudá-las com mais afinco. No entanto, eu estudei sozinho, por isso meu esforço foi dobrado para organizar meus estudos. Então, caso você esteja em um cursinho preparatório sério, siga seu método e suas estratégias com afinco que dará certo.

4. Preparação em si

Como eu trabalho e tenho tempo reduzido para meus estudos, tracei um objetivo direto de alcançar 10% à mais da pontuação mínima necessária nos simulados que me prestei a fazer. Abaixo vou relatar o que eu fiz para me preparar.

4.1. Primeira fase

Primeira coisa, TENHA UM VADE MECUM atualizado para estudar. Peça emprestado, compre, alugue, dê seu jeito, porque é essencial para suprir dúvidas. Em segundo lugar, não perca tempo lendo tratados por inteiro. Leia resumos! Compre um bom livro com o resumo de todas as disciplinas e estude por eles. Faça simulados e questões o máximo que puder. Eu preferi fazer simulados para sempre ter uma ideia da minha pontuação. Trace seus estudos baseado no peso que cada disciplina tem na prova de primeira fase, isto é, Ética tem dez questões, Constitucional e Civil tem sete, Administrativo, Penal, Processo civil e Trabalho tem seis cada, somadas já são 48 questões, isto é, mais que o mínimo que um candidato precisa fazer para vencer esta fase. Então, essas disciplinas são essenciais para que você comece bem sua prova. Indo bem nessas disciplinas, que creio ser mais importantes para a prova por somarem mais pontos, o candidato pode focar nas disciplinas de Empresarial, Processo Penal e Processo do Trabalho que tem cinco questões cada, e sinceramente quanto às outras, só estude se tiver afinidade, foque nas questões. Eu adotei esta estratégia focando à partir do peso das disciplinas na prova e consegui alcançar a meta.
http://blogexamedeordem.com.br/distribuicao-das-disciplinas-na-prova-da-oab/

Em outro rumo, caso você faça um curso preparatório de qualidade, siga seu método e confie nas suas estratégias, mas creio que para esta fase minhas dicas podem te ajudar a otimizar seus estudos. Meus amigos e colegas me deram tais dicas e confie e fui aprovado na primeira fase.

4.2. Segunda fase

Nesta fase, assumo, é incompreensível conseguir a aprovação sem a ajuda de um preparatório. Nesta fase eu assumi minha hipossuficiência quanto à minhas estratégias e recorri a um cursinho. Sabemos que nem todos podem pagar tais preparatórios, relato que existem vídeos no youtube com vários resumos, e estratégias para a OAB, podem ser vistos mesmo que não possuam a mesma qualidade. Mas independentemente disso, vou relatar basicamente o que fiz pois também possuia um tempo muito escasso para estudar e me preparar para a fase a partir de dicas que recebi e que deram certo.

Nesta fase, procure a sua afinidade com a disciplina e contrabalanceie com seu tempo disponível para estudar. Realizando isso, esteja certo que a aprovação virá. Repetindo, não havendo tempo para estudar, decida por uma disciplina que tenha afinidade e que tenha pouca possibilidade de peças que já foram cobradas na OAB. Claro, você dependerá de sorte, mas a sorte favorece aos que se preparam. Nesse sentido, eu, que sempre estudei Direito do Trabalho, foquei meus estudos em tal área devido a minha afinidade e a cultura de repetição na cobrança de peças no certame, isto é, não precisaria focar em uma infinidade de peças para estudar.

Veja vídeos! Veja vídeo-aulas se puder. Elas ajudarão muito!

Tenha um livro de Prática para sua área, isso vai te ajudar. Tenha um Vade Mecum específico para a OAB com um índice remissivo ou prepare um para a prova de acordo com as normas do edital pois poderá ser consultado durante a prova, e treine essa consulta!

No dia da prova, NÃO FAÇA À LÁPIS PARA DEPOIS PASSAR À LIMPO!!! Esqueça isso! Não vai dar tempo!!! Responda à caneta direto. Responda primeiro as questões discursivas! Depois faça a peça! Vou lhe contar porque. Eu, apesar de todas as dicas, errei no dia prova e me prejudiquei na realização da segunda fase porque perdi muito tempo devido a minha má organização. Eu marquei as respostas das minhas perguntas e depois na hora de responder fiz a consulta novamente, isto é, consultei duas vezes o Vade Mecum e perdi um precioso tempo. Outra coisa, faça o máximo de pontos possível nas questões discursivas, elas darão tranquilidade para o momento da confecção da peça. Acertando, de preferência, todas, você já terá cinco pontos na prova, precisando apenas de fazer dois pontos na peça. No momento da peça, FAÇA UM ESQUELETO do documento através de tópicos antes de confeccioná-la. Indo bem nas discursivas, não se preocupe, basta você acertar quesitos mínimos em sua peça quanto à endereçamento, organização dos tópicos necessários para a mesma e outros quesitos básicos, que, complementando com sua fundamentação jurídica, com certeza você realizará a pontuação mínima necessária.

5. In fine

Tente se tranquilizar para o momento avaliativo, a OAB tem adotado várias chances durante o ano para realizar a prova, podendo aproveitar inclusive a primeira fase caso haja reprovação na segunda. Por isso, caso não tenha êxito, saiba que no mesmo ano poderá prestar o exame novamente, bastando se preparar e diminuir a ansiedade. 

Independentemente das críticas (positivas ou negativas) quanto ao processo avaliativo, ela não será determinante no seu projeto pessoal e profissional seja lá qual for. Passar ou não passar nada tem a ver com seu futuro, sendo apenas um procedimento para ingressar na categoria profissional dos advogados. Por isso, não coloque tanta importância e peso em algo que é apenas mais uma etapa de seus estudos como todas as centenas de provas que já fez e fará durante sua vida. Fuja da ansiedade! Seja feliz! Lembre-se que você não precisa tirar nota máxima nessa prova, mas sim a mínima. Com essa estratétigia logrei êxito! 

BOA PROVA!

quinta-feira, 29 de março de 2018

DISCUTINDO OU BRIGANDO?

http://www.investigacoesfilosoficas.com/guia-para-uma-discussao-filosofica-inclusiva-construtiva-e-respeitosa/

Os conhecimentos e as informações no mundo atual fluem com uma velocidade que tempos atrás não se imaginaria ser possível. Através das ferramentas de busca dispostas na internet é possível apreender qualquer conhecimento, desde os mais simples até resultados de pesquisas científicas. No entanto nem sempre encontramos tudo o que precisamos ou que queremos.

Em outro aspecto, as pessoas também podem se expressar quase que livremente pela web através de blogs, sites, mídias sociais e muitos outros meios que surgem a cada dia. Mas no meio científico e profissional especializado existem alguns obstáculos como normas para publicação, qualis de revistas, exigências das mais variadas que podem desestimular aqueles estudantes que ousem publicar seus pensamentos em meios formais ou informais de circulação de ideias.

Por isso que, levando em consideração os valores éticos e morais atuais, é importante que as pessoas divulguem suas ideias e encarem discussões sobre os mais variados temas e nos mais variados níveis de aprofundamento. O importante é divulgar conhecimento e vivenciar a experiência do contraditório de forma pacífica e inteligível. Este exercício demonstrará o grau que suas ideias podem se difundir em seu círculo social e poderá ajudar no entendimento do lugar em que suas ideias se encontram no mundo teórico e/ou pragmático.